Técnica de enfermagem denuncia colega de trabalho por usar caneca em referência à Ku Klux Klan: ‘Me sinto ferida na minha existência’
Marília Romualdo do Amaral é acusada por usar item com os dizeres ‘Sou da cuscuz Klan’, fazendo trocadilho com nome de grupo americano de supremacistas brancos, que perseguiam e matavam negros e simpatizantes do movimento por igualdade racial.
Por Paulo Renato Soares, RJ2
Uma técnica de enfermagem denunciou uma colega de trabalho por usar uma caneca com um símbolo racista, em referência ao grupo supremacista branco americano Ku Klux Klan, no Hospital dos Servidores, na Saúde, Centro do Rio de Janeiro.
O grupo referenciado na caneca é supremacista branco, de extrema-direita, que perseguia e matava negros e simpatizantes do movimento por igualdade racial. Os dizeres tentam fazer uma piada com o nome da Ku Klux Klan: “Sou da cuscuz Klan”.
Rosana Rezende contou que a mulher, identificada como Marília Romualdo do Amaral, usava a caneca na copa do hospital durante os intervalos. A denunciante teria tentado conversar com a colega sobre o assunto.
“Me sinto ferida na minha existência como mulher negra, como ser humano, não só como mulher negra, porque uma organização supremacista branca, que foi criada com o objetivo de extermínio de pessoas, independente de raça, porque é negro, até porque não foi só isso, porque eles também assassinavam judeus, assassinavam gays, assassinavam católicos. Então, a gente não pode normalizar essa situação”, afirma Rosana.
“A colega ostentando esse símbolo me diz: ‘Não ligo para sua vida’, ‘A sua vida não significa nada para mim’, ‘Estou ostentando o símbolo de uma organização suprematista branca que exterminava as pessoas iguais a você, que não ligavam pra sua vida’. É isso que ela me falava. Então, isso me feriu muito”, continua.
Nas redes sociais, Marília também já defendeu o tratamento da Covid-19 com remédios comprovadamente ineficazes, fez piadas com negros e o racismo, além de falar em liberdade de expressão.
Ao não ter o pedido atendido por Marília, Rosana resolveu levar o caso para a chefia e para a ouvidoria da unidade – que também não teriam tomado medidas para impedir o uso do item. A chefia teria alegado que a postura da colega era “liberdade de expressão”.
Rosana, então, entrou em contato com o sindicato, que a ajudou a levar o caso até a direção do hospital.
“Nós falamos para a divisão de enfermagem do hospital que isso é crime, que propagar, divulgar símbolos racistas é crime, e nós vamos para a delegacia, vamos registrar”, afirma Oswaldo Mendes, diretor do Sindisprev/RJ.
A advogada, Waleska Miguel Batista, do Instituto Luiz Gama, de defesa de causas populares e da população negra, diz que a agressora cometeu crime de racismo, e nada pode ser atenuante ou servir para amenizar a atitude dela contra a vítima,
“Quando a gente tem a constatação de que é um movimento de supremacistas brancos, que é um movimento de inferiorização de um grupo específico, que é a população negra, ali a gente está vendo no mínimo a prática do racismo. Não pode nem dizer que é uma questão individual, porque ataca a toda a coletividade. O racismo deve ser punido, ele não é aceitável, ainda que como piada, ele também é reconhecido ali, ou seja, piada não é justificativa para liberdade de expressão, liberdade de expressão não se justifica com crime”, explica.
A TV Globo não conseguiu contato com a técnica Marília Romualdo do Amaral.
A direção do Hospital Federal dos Servidores do Estado disse que está apurando o caso e que “não compactua com qualquer tipo manifestação racista ou que atente contra os direitos humanos”.