Bolsonarista filmado ao destruir relógio de Dom João VI é preso
Prisão aconteceu em Uberlândia. Polícia Civil confirmou que o investigado é de Goiás. Imagens mostram o homem pegando o relógio e jogando o objeto no chão.
Por Gabriela Macêdo, Honório Jacometto e Yasmin Pontual, g1 Goiás e TV Anhanguera
O homem filmado ao derrubar e destruir o relógio do século 17 feito pelo francês Balthazar Martinot, no Palácio do Planalto, foi preso pela equipe da Polícia Federal (PF) de Goiás. A prisão aconteceu nesta segunda-feira (23), na cidade de Uberlândia, em Minas Gerais. O homem é Antônio Cláudio Alves Ferreira, de 30 anos.
O relógio de pêndulo foi um presente da Corte Francesa para Dom João VI. Balthazar Martinot era o relojoeiro do rei francês Luís XIV.
Os atos cometidos por bolsonaristas radicais aconteceram no último dia 8 de janeiro. Na ocasião, os golpistas invadiram o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto. Mensagens divulgadas pelo g1 mostraram que bolsonaristas radicais se articulavam por meio de aplicativos de mensagens.
Após os atos terroristas, o Ministério da Justiça passou a considerar Antônio, que foi preso nesta segunda-feira, como foragido. O g1 não conseguiu localizar a defesa dele para que se posicione, até a última atualização desta reportagem. A corporação ainda informou que Antônio não resistiu à prisão.
Buscas por Antônio
Antes de o homem filmado ao destruir o relógio do século 17 no Palácio do Planalto ser preso em Uberlândia, na noite desta segunda-feira, a Polícia Civil encontrou um carro que está registrado no nome dele.
Com base nos dados e comparando as imagens de câmeras de segurança, a corporação descobriu que carro de Antônio Cláudio Alves Ferreira estava em Brasília no dia do ataque.
Após isso, por volta de 20h do dia 8, ou seja, após os atos de terrorismo ocorridos em Brasília, o veículo saiu do Eixo Monumental e, por volta de 23h, foi visto saindo da capital federal. Já na madrugada no dia 9, por volta de 4h30, o carro foi visto entrando em Catalão.
Após a chegada na cidade goiana, na madrugada do dia 9, a Polícia Civil percebeu que o veículo dele não circulou pela cidade até o dia 16 de janeiro, quando foi visto em movimento no município até o dia 18, data que ele foi filmado pela última vez. Conforme os registros, ele foi visto circulando em Catalão durante manhã daquele dia.
Após a prisão, Antônio foi ouvido na sede da delegacia da Polícia Federal.
Histórico
Antônio Cláudio Alves Ferreira já tinha pelo menos três processos criminais na Justiça de Catalão e já foi preso duas vezes. Todos os processos relacionados a ele estão arquivados atualmente porque ele cumpriu as sentenças. Abaixo, veja os processos no Tribunal de Justiça de Goiás:
- Ano de 2014: TCO art 147 (ameaça);
- Ano de 2014: TCO art 147 (ameaça);
- Ano de 2015: Processo envolvendo a propriedade de um automóvel;
- Ano de 2017: prisão flagrante – art 33 (tráfico drogas).
De acordo com as sentenças, os processos por ameaça foram arquivados porque Antônio Cláudio fez acordo com uma das vítimas e, no outro processo, a vítima não compareceu à audiência. Mais abaixo, veja as passagens pela polícia em Goiás.
- Processo (ameaça): Antônio Cláudio fez acordo com a vítima em 19 de novembro de 2014. Segundo o termo de audiência, o autor se comprometeu a não mais injuriar, ameaçar, ou de qualquer forma importunar a vítima. No acordo, a vítima renunciou ao direito de representação contra Antônio.
- Processo (ameaça): Também em 2014, Antônio Cláudio respondia a processo por ameaça. Este foi arquivado porque a vítima não compareceu à audiência na Justiça.
- Processo cível: Neste processo, Antônio moveu ação trabalhista contra uma empresa e fez acordo, quando negociou e ganhou a propriedade de um automóvel.
- Processo por tráfico de drogas: Em 2017, Antônio foi preso em flagrante por tráfico, mas o crime foi alterado na Justiça para posse de droga. Assim, ele foi solto e cumpriu pena alternativa. O processo foi arquivado em 2018.
- Segundo a sentença que mandou arquivar o processo, Antônio pagou multa de R$ 1 mil, dividida em 5 parcelas. Todas as guias de pagamento foram enviadas ao Judiciário. Ele também compareceu diversas vezes ao Núcleo de Apoio ao Toxicômano e Alcoólatra de Catalão durante quatro meses, para assistir palestras semanais.
Passagens pela polícia
A Polícia Civil de Catalão levantou os registros contra Antônio Cláudio, nesta semana, após ele ser identificado, e descobriu duas prisões.
- 2014: Prisão em flagrante pelo crime de receptação, previsto no artigo 180, do Código Penal.
- 2014: Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por ameaça, crime previsto no artigo 147.
- 2014: Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) previsto no artigo 28 da Lei de Drogas (LD). O artigo versa sobre comprar, guardar ou portar drogas sem autorização para consumo próprio. As penas são advertência sobre os efeitos das drogas e prestação de serviços à comunidade.
- 2017: Prisão em flagrante por tráfico de drogas, artigo 33 da LD. Neste caso, o processo foi arquivado em 2018, após ele cumprir a sentença judicial.
O registro de prisão por receptação, de 2014, consta no sistema da polícia, segundo o delegado Jean Arruda, mas ele não foi encontrado pelo Judiciário. A reportagem apurou que Antônio Cláudio trabalhou em duas oficinas de carro em Catalão. A TV Anhanguera localizou o dono de uma delas, que preferiu não gravar entrevista, mas contou que o homem saiu da oficina durante a pandemia e que, nos últimos meses de trabalho, puxava conversas com colegas para atacar a democracia.