Estamos falando de uma ‘verdadeira máfia’, diz Castro sobre violência no RJ
Governador do RJ e secretário-executivo do Ministério da Justiça se reuniram para discutir medidas de auxílio do governo federal no combate ao crime no estado, após morte de médicos na Barra da Tijuca.
Por Henrique Coelho, g1 Rio
“Não estamos falando mais de uma briga de milicianos e traficantes. Estamos falando de uma verdadeira máfia, uma máfia que tem entrado nas instituições, nos poderes, nos comércios, nos serviços e no sistema financeiro nacional”, disse o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, em entrevista coletiva nesta sexta-feira (6) sobre o ataque aos médicos na orla da Barra da Tijuca.
Castro e o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, se reuniram para tratar do assunto e traçar medidas de auxílio do governo federal no combate ao crime no RJ.
Três médicos morreram e um foi hospitalizado após criminosos efetuarem 33 disparos contra eles em um quiosque. As investigações apontam que os atiradores tinham como alvo o filho de um miliciano que mora na região e disparam contra os médicos após se confundirem.
“[A máfia] tem seus próprios tribunais e vem atuando nas mais diversas esferas. Essa máfia vem se expandindo no território nacional”, afirmou Castro. O governador, no entanto, reafirmou que o problema da violência atinge o Brasil como um todo, e não somente o estado do Rio.
“Estamos aqui para falar de um problema que não é somente do estado do Rio de Janeiro, é um problema do Brasil. Esse é um problema que só conseguiremos ter sucesso no combate à criminalidade se for um combate de todos. Governo federal, todos os estados, prefeituras.”
O governador disse que o combate ao crime continuará e citou apreensões feitas pela polícia somente este ano: mais de 4 mil armas, sendo 472 fuzis. “Um arsenal de guerra”, disse.
“As investigações continuam. Não iremos parar por aqui. Não é porque se acharam corpos que as investigações vão parar. As investigações vão ser ampliadas, vão continuar. Não retrocederemos um milímetro sequer para essas máfias”, prometeu o governador.
Castro disse que a inteligência da polícia planejava uma operação para prender os suspeitos do crime quando foi surpreendida com a localização dos corpos dentro de dois carros, na Zona Oeste.
Ele também se solidarizou com as famílias das vítimas e reconheceu o trabalho de investigação no caso.
Cappelli fala em unir esforços
O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli — Foto: Henrique Coelho/g1 Rio
O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, afirmou que a violência destrói a economia e afronta o Estado democrático de direito. Ele afirmou que é preciso unir esforços no combate às organizações criminosas interestaduais, nacionais e “muitas vezes transnacionais.”
“Não há outro caminho a não ser a sociedade brasileira, as instituições darem as mãos. É um desafio do país.”
Capelli citou que mais de 7 mil celulares foram apreendidos no RJ e afirmou que o governo federal vai ampliar a sua participação no estado. Ele também citou o apoio da Polícia Federal na elucidação do assassinato dos médicos.
“O ministro Flávio Dino determinou e, nos próximos dias, vamos ampliar a nossa ação de inteligência no estado do Rio de Janeiro, reeditando o que foi a Missão Suporte, que identificou e prendeu líderes de organizações criminosas. Vamos ampliar o apoio ao governo do Rio de Janeiro.”
Ações contra facções criminosas
O governador foi questionado sobre as ações do governo do Rio de Janeiro a respeito dos traficantes do Comando Vermelho que teriam ordenado a morte dos suspeitos de matar os médicos na Barra da Tijuca. Ele respondeu que esse combate já é feito de forma diária pelas polícias.
“É um combate que já viemos fazendo todo dia, fizemos no Jacarezinho, na Vila Cruzeiro, temos a força tarefa contra as milícias, as apreensões que viemos fazendo todos os dias. Esse trabalho de combate à essas facçõe criminosas já vem acontecendo e não vai retroceder.”
José Renato Torres, secretário de Polícia Civil, disse que três dos quatro mortos encontrados no carro já foram identificados.
“Dos quatro cadáveres, três foram plenamente identificados. Um deles era objeto da investigação. O inquérito está aberto. Vamos tratar com o mesmo rigor com quem mandou matar esses indivíduos que cometeram esse crime.”
Traficantes em videoconferência com presos
Sobre a informação de que houve uma reunião por videoconferência de traficantes da Penha com presos de Bangu 3 para definir o destino dos atiradores da Barra, Torres falou que o caso é investigado.
“Fizemos uma apreensão de celulares [dentro de unidade prisional] e já estão sendo periciados pela nossa Inteligência.”
Polícia: médicos foram mortos por engano
Filho de miliciano, conhecido como Taillon (à esquerda), seria o alvo e teria sido confundido com o médico Perseu (à direita) — Foto: Reprodução
O secretário da Polícia Civil do Rio, Renato Torres, confirmou nesta sexta que o ataque aos médicos foi um engano: “Não resta mais dúvida alguma“, afirmou.
Informações já apontavam, nas primeiras horas da manhã de quinta (5), que os criminosos tinham errado o alvo e confundido Perseu Ribeiro Almeida, uma das vítimas, com o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa que os traficantes estavam procurando para matar.