‘Decidi obedecer’, diz cardeal condenado à prisão após desistir do conclave
Giovanni Angelo Becciu, condenado por peculato, renunciou aos direitos de cardeal em 2020 e foi proibido de participar da eleição, conforme documentos assinados pelo papa Francisco.
Por Redação g1
O cardeal italiano Giovanni Angelo Becciu, que perdeu os direitos ao cardinalato após ser condenado por peculato, anunciou de forma oficial nesta terça-feira (29) que vai “obedecer” à decisão da Igreja Católica de o vetar do conclave que elegerá o próximo pontífice.
A informação havia sido adiantada pela imprensa italiana na segunda-feira. O religioso causou polêmica na semana passada ao pressionar o Vaticano para ser admitido na votação.
“Tendo no coração o bem da Igreja, à qual servi e continuarei servindo com fidelidade e amor, assim como para contribuir com a comunhão e a serenidade do conclave, decidi obedecer como sempre fiz”, afirmou o cardeal em comunicado enviado à agência de notícias AFP por seu advogado.
Angelo Becciu, 76 anos, já foi uma das figuras mais poderosas do Vaticano, assessor de Francisco e chegou a ser considerado um dos nomes favoritos para assumir a liderança da Igreja Católica, mas uma operação imobiliária opaca em Londres o levou à Justiça e ao ostracismo clerical.
Cardeal condenado
Becciu renunciou aos direitos ligados ao cardinalato em 2020, após ser alvo de uma investigação sobre irregularidades na compra de um imóvel de luxo em Londres. Na ocasião, o Vaticano anunciou que o papa Francisco havia aceitado a renúncia.
Segundo as investigações, em 2014, o Vaticano gastou mais de US$ 200 milhões na aquisição do imóvel. De acordo com a BBC, parte do dinheiro utilizado deveria ter sido destinada a obras de caridade.
O acordo foi assinado por Becciu, que, na época, atuava como chefe de gabinete do papa. Além disso, o religioso também teria desviado recursos para a diocese de sua cidade natal, na Sardenha, beneficiando membros de sua própria família.
Em dezembro de 2023, Becciu foi condenado a cinco anos e seis meses de prisão, além da inabilitação perpétua para cargos públicos, por peculato e abuso de poder. A decisão foi proferida pelo Tribunal do Vaticano. O religioso recorreu da decisão e continua em liberdade.
Um dia após a morte do papa, Becciu anunciou que havia viajado para Roma para participar do conclave. Ele alegou que o papa havia garantido que seus direitos como cardeal eram vitalícios.
O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado de Francisco por anos, entregou a Becciu dois documentos assinados pelo pontífice argentino, confirmando que ele não poderia participar do conclave. A primeira carta é de 2023, e a outra é do mês passado, de acordo com o jornal Domani.
Parolin também teria apresentado os documentos aos cardeais reunidos para preparar o terreno para o conclave.
Becciu já foi considerado uma figura influente no Vaticano. Como conselheiro de Francisco, chegou a ser apontado como possível sucessor. Em 2018, foi nomeado cardeal pelo próprio papa, mas perdeu espaço na Igreja após o escândalo vir à tona.
O religioso sempre negou as acusações e chegou a afirmar que Francisco havia perdido a fé nele.