Argentina deverá ser local mais quente do mundo nos próximos dias e agricultura sofre perdas
O cenário climático da Argentina segue preocupando, vai se agravando e tirando, a cada dia, uma fatia grande do potencial produtivo das safras do país. Para a soja, de acordo com os especialistas, há regiões sofrendo com perdas de até uma tonelada por hectare, com espaço para que fiquem ainda mais severas. Afinal, os modelos meteorológicos sinalizam que, nos próximos 10 dias, áreas de produção no país poderão ser as mais quentes do planeta, reflexo do terceiro ano de La Niña, segundo um estudo desenvolvido pela Instituto Climático da Univesidade do Maine, nos Estados Unidos.
As temperaturas em dezembro deverão ser muito elevadas, podendo superar os 45ºC em alguns pontos da Argentina, superando largamente as médias para dezembro. As projeções são de que o plantio tanto da soja, como do milho, seguirão bastante atrasados.
“Há altas chances de uma onda de calor em Córdoba entre segunda (5) e sexta-feira (9), com possibilidade de um pico na quarta-feira. O alívio poderia vir apenas no final de semana. Atenção aos riscos de incêndio”, informou o Grupo Radar Córdoba pelo Twitter. Todavia, o alívio deverá ser rápido e pouco expressivo, sem grandes mudanças expressivas para a segunda semana do mês, mantendo a seca.
No dia 1º de dezembro, um informe da Mesa Nacional de Monitoramento de Secas da Argentina apontou que 22 milhões de hectares estão sob severa estiagem, a maior parte deles na chamada Zona Núcleo, o principal centro de produção do país.
A falta de chuvas não só limita o avanço da semeadura, como já provoca perdas nas lavouras plantadas, em especial os campos de milho que foram plantados mais cedo. Áreas cultivadas com o cereal como norte de Buenos Aires, sul de Santa Fe, sul de Córdoba e oeste de Entre Rios são algumas das mais afetadas.
Além da soja e do milho, a conclusão da safra de trigo também segue registrando perdas expressivas. A imagem abaixo mostra lavouras do cereal sofrendo com a estiagem severa.
Na província de Buenos Aires, 13 municípios tiveram estado de emergência agropecuária declarado por conta dos danos causados pela falta de chuvas. Os distritos de San Pedro, Rojas, Salto, Ramallo, Junín, Arrecifes, Alberti, Chascomús, Suipacha, Lobos, San Vicente, Magdalena e Dolores são os municípios já declarados.
“Os municípios do nordeste de Buenos Aires estiveram envolvidos nos primeiros sete milhões de hectares afetados pela forte seca. Agora, essa área cobre mais províncias e chega a 23 milhões”, informa o portal argentino Infocampo. No norte de Buenos Aires, os trabalhos de plantio estão totalmente paralisados.
Já a Comissão Provincial de Emergência Agropecuária de Córdoba pedirá ao governo que considere como áreas de desastre os locais em que foram registrados incêndios entre agosto e novembro. Em Córdoba são cerca de 35 mil hectares afetados.
Onde a emergência ou desastre estão declarados, os prazos de pagamentos, pagamentos de tributos, imposto de renda e demais despesas terão seus prazos prorrogados.
Os últimos números do Guia Estratégico para o Agro, da Bolsa de Comércio de Rosário, mostram que são cerca e 200 mil hectres de soja em condições ruins e cerca de 1,23 milhão em condições regulares. No milho, dos 200 mil hectares plantados, são cerca de 110 mil em situação ruim ou regular.
“Quando o plantio da soja é adiado de 25 de outubro para 25 de novembro na zona núcleo, estamos falando de uma perda de 25 quilos por hectare por dia. Mas quando o atraso ocorre entre os primeiros dias de dezembro até o dia 10, já se fala em perdas de mais de 100 quilos por dia; a partir de dezembro as perdas são abruptas”, disse Rodolfo Rossi, sojicultor e especialista na cultura, à Bolsa de Rosário.
Como explicou o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, “neste domingo (5), circularam alertas de temperaturas extremas para a Argentina, Paraguai e Rio Grande do Sul. As temperaturas podem passar de 40°C. Os seis modelos de clima concordam. O La Ninã vai perder força somente a partir de janeiro e fevereiro”.
PECUÁRIA
Ao lado dos grãos, a pecuária também sofre na Argentina e a produção de bezerros poderia diminuir cerca de um milhão de cabeças até 2023, com 50% do rebanho nacional sob risco, segundo o mercado pecuário de Rosario (Rosgan) em apuração da mídia argentina.