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Homem que teve melanomas trabalhou exposto a veneno em fábricas de fumo: ‘Descia de lá vomitando’

A doença apareceu pela primeira vez em 2013 e voltou oito anos depois. O Profissão Repórter desta terça-feira (23) expôs os perigos do câncer de pele e apresentou os esforços para reconstruir as mutilações provocadas pela doença.

Por Profissão Repórter

Profissão Repórter desta terça-feira (23) expõe os perigos do câncer de pele. Em Porto Alegre, a equipe conversou com mecânico aposentado ÁureoThiesen, que teve o primeiro melanoma descoberto em 2013 e voltou a conviver com a doença anos depois.

Ele explica que, durante o trabalho em uma fábrica de fumo, ficou exposto a produtos venenosos.

“Mexia nas máquinas de fumo e lá dentro estava sempre exposto. E as usinas de fumo adicionam muito veneno. Isso já vem do agricultor com uma dose alta e depois, lá dentro, eles põem mais uma dosagem. Aí ficavam os esguichos, e muitas vezes você descia de lá vomitando”, diz o aposentado.

A filha de Áureo, Ana Paula Thiesen, é enfermeira com especialização em câncer de mama. Ela conta como ocorreu a descoberta da doença e fala da luta do pai nos últimos anos.

“Em julho de 2013, ele teve um melanoma e fez a ressecção. Veio a confirmação do diagnóstico de melanoma grau 3 e, exatamente oito anos depois, veio um nódulo novamente, onde ele já tinha feito a ressecção”, relata a filha.

Ana Paula Thiesen fala sobre o tratamento do pai, Áureo,  diagnosticado com melanoma grau três. — Foto: TV Globo/Reprodução

Ana Paula Thiesen fala sobre o tratamento do pai, Áureo, diagnosticado com melanoma grau três. — Foto: TV Globo/Reprodução

Os médicos chamam de ressecção o processo de retirada do tumor.

De acordo com o oncologista da Santa Casa de Porto Alegre, Felice Riccardi, pacientes acompanhados pela saúde pública enfrentam dificuldade na aquisição de medicamentos. “Os pacientes do SUS não têm acesso a essas drogas novas, pois o custo é alto”, explica.

Para prosseguir com o tratamento, a família de Áureo teve que vender imóveis para fazer os procedimentos, até que a Justiça garantisse acesso aos medicamentos.

“Vendemos imóveis para conseguir que o meu pai tivesse acesso. Pelo SUS não é pactuado, então, a gente teve que entrar via judicial. E, pela via judicial, isso vai para a instância federal. E, da instância federal, levamos 11 meses para obter a medicação. Nesse meio tempo o meu pai já tinha feito a terapia-alvo, porque nós compramos. Nós gastamos R$ 350 mil em remédio”, completa a filha.

ÁureoThiesen e a filha, Ana Paula, receberam a equipe do Profissão Repórter. — Foto: TV Globo/Reprodução

ÁureoThiesen e a filha, Ana Paula, receberam a equipe do Profissão Repórter. — Foto: TV Globo/Reprodução

Felice explica que Áureo teve comprometimento nas ínguas da axila, o que comprometeu o movimento no braço. Ainda segundo o oncologista, a principal causa do melanoma ainda é a exposição à luz solar.

“O câncer de pele que é mais provocado pela exposição a herbicidas, pesticidas, é o câncer de pele não-melanoma – que não é o caso do Áureo, que tem melanoma. Esses produtos utilizados na agricultura realmente são impactantes no desenvolvimento do câncer de pele não-melanoma. E ainda associado a isso, tem o sol: a pessoa que trabalha no campo usa o herbicida e ainda tem o sol. Então, ele tem dois fatores muito importantes associados. A gente precisa mostrar isso para impactar na diminuição da incidência. E, se a gente diminui a incidência, diminui a morte”, destaca.

Áureo Thiesen não resistiu ao melanoma e morreu um mês após a gravação da reportagem.

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