Projeto reforma casa de 4 metros quadrados em favela da Zona Oeste de SP; veja antes e depois
Transformação foi realizada pela arquiteta Ester Carro, que também é do Jardim Colombo. Espaço ganhou banheiro, um local para lavar as mãos, escada sob medida, armário e até frigobar.
Por Paula Paiva Paulo, g1
Na primeira ida do g1 à casa de Francisco da Silva, de 59 anos, em maio deste ano, ele precisava escalar as paredes para deitar em sua cama. Na segunda visita, em setembro, ele alcançava a cama com uma escada feita sob medida para os 4 metros quadrados de sua casa. O espaço também ganhou banheiro, um local para lavar as mãos, armário e até frigobar. A transformação tem nome: Ester Carro, arquiteta que promoveu a reforma do local.
Nascido em Natal, no Rio Grande do Norte, Francisco, conhecido como “Tiquinho”, mora desde os 9 anos no Jardim Colombo, comunidade da Zona Oeste de São Paulo. Há dois anos, ele comprou sua casa, onde mora sozinho. O espaço, minúsculo, abrigava um sofá com o estofado rasgado, um colchão em cima de uma placa de madeira, panelas, itens de higiene e roupas penduradas na parede. A fiação estava solta e aparente.
A arquiteta e urbanista Ester Carro também é do Jardim Colombo, onde nasceu há 28 anos. “Quando eu decidi fazer arquitetura, eu tinha um propósito e queria muito devolver os meus aprendizados aqui para a comunidade”.
Ester criou o projeto Fazendinhando, que, entre outras coisas, oferece cursos de capacitação em construção civil e faz pequenas intervenções em casas da comunidade.
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Francisco da Silva, o ‘Tiquinho’, na frente da sua casa após a reforma realizada pela arquiteta Ester Carro, que também é do Jardim Colombo, comunidade da Zona Oeste de SP — Foto: Celso Tavares/g1
Em uma das reformas, Tiquinho estava trabalhando como voluntário quando Ester soube da situação de sua casa. “Aquilo me causou um certo espanto. A casa dele é precária, mas ele está aqui ajudando a vizinha dele a melhorar a casa dela. Por que não ajudar o Tiquinho também? Ele merece ter mais dignidade.”
Após um desenho técnico das mudanças, a arquiteta foi atrás de empresas e entidades para buscar apoio com doações de recursos e materiais. Além do novo mobiliário, a equipe do projeto precisou refazer toda a parte elétrica.
Tiquinho contou também com a solidariedade da moradora de cima de sua casa, que cedeu o espaço debaixo da escada dela para que pudesse ser construído um banheiro. Com essa extensão, o novo lar de Francisco ficou com aproximadamente 7 metros quadrados.
A obra começou em abril, e, com algumas pausas no percurso, ficou pronta em setembro. A fachada, que era de um rosa desgastado, agora tem uma cor azul vibrante. A frente da casa também ganhou um pequeno jardim, uma das paixões de Tiquinho.
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“Mudou tudo. Até minha autoestima levantou muito, sabe? Me fortaleceu muito, de verdade”, disse Francisco.
Ester disse que a reforma na casa do morador reforça a importância de profissionais de arquitetura atuarem dentro das comunidades. “São milhares e milhares de favelas, de moradias precárias. A casa do Tiquinho mostra um pouco que é possível morar com dignidade, apresentando uma casa esteticamente bonita, com um conforto também.”
A arquiteta reforça que, apesar da reforma, uma casa de 4 metros quadrados não é modelo de moradia. “Não é o cenário ideal, não seria algo que, de alguma forma, se eu fosse fazer um projeto do zero, jamais iria colocar essas dimensões.”
Com a casa reformada, Tiquinho conta que até já recebeu propostas de compra, mas é categórico em dizer quando irá vendê-la: “Nunca!”.
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Projeto de transformar ‘lixão’ em parque
Há cinco anos, o g1 mostrou outro projeto de Ester para a comunidade, quando ela era ainda mais jovem: o plano de transformar um local de descarte diário de lixo em um parque.
Sem praças ou espaços de convivência no Jardim Colombo, ela e outros moradores queriam que as crianças tivessem um lugar para brincadeiras e atividades.
A iniciativa tinha um padrinho: o Sitiê, no Vidigal, Zona Sul do Rio de Janeiro. No alto da comunidade, o local também era um verdadeiro “lixão”, mas foi transformado em um parque ecológico premiado internacionalmente.
Ester fez um desenho inicial do projeto, apresentou para a comunidade, e, com o apoio dos moradores, começaram a acontecer mutirões de intervenção no local.
Ao longo dos últimos anos, o espaço ganhou playground e hortas. Ainda não está completamente reformado, mas já virou ponto de encontro e espaço para eventos do Jardim Colombo, como a festa anual do Dia das Crianças.
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Em 2018, g1 mostrou outro projeto de Ester Carro no Jardim Colombo, que transformou um espaço de descarte de lixo em um local de convivência, com playground e horta — Foto: Arquivo pessoal