Brasil

Abílio Diniz: ‘Coloque na minha lápide: estou aqui, mas eu vim contra a minha vontade’

Empresário morreu neste domingo (18) aos 87 anos. Em entrevista, disse que queria música de Gonzaguinha em velório e lápide dizendo que não desejava morrer.

Por g1

Em uma de suas últimas entrevistas, Abílio Diniz contou que fez um pedido à família para o dia de seu velório: que tocassem a música “O que é, O que é?” de Gonzaguinha e escrevessem e sua lápide “estou aqui, mas eu vim contra a minha vontade”. O empresário morreu neste domingo (18), em São Paulo.

O desejo foi compartilhado, com bom humor, em uma edição especial do programa “Caminhos”, da CNN Brasil, que era apresentado por Diniz. No episódio de 17 de dezembro de 2023, o empresário foi o entrevistado.

Diniz, que construiu e comandou o grupo Pão de Açúcar ao lado do pai, também era um apaixonado por esportes e comentava que pretendia continuar com o trabalho e os hobbies até o fim da vida.

“Eu gosto do que eu faço, eu gosto da minha vida, gosto dela como ela é […]. Eu faço aquilo que eu gosto e quero continuar fazendo, se Deus me permitir, até o último dia da minha vida. E não é só trabalhar, é fazer meus esportes, meus exercícios, convivendo com minha família, que é a coisa mais importante para mim”.

O empresário afirmou que, quando morresse, não queria que as pessoas lamentassem sua partida.

“Eu amo a minha vida, eu amo aquilo que eu faço. Eu já disse para minha mulher e meus filhos. Quando eu morrer, eu não quero aquela turma ‘ah, coitado’. Põe a música do Gonzaguinha: ‘viver é não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar a alegria de ser um eterno aprendiz’, que eu sou. Põe lá e deixa rolar. Não tem isso de ‘ah, coitado, tão cedo’. E isso a minha mulher disse que não ia fazer porque Deus não ia gostar. Coloque na minha lápide: ‘estou aqui, mas eu vim contra a minha vontade'”, disse Diniz.

Veja a letra da música abaixo:
E a vida, e a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida de um coração
Ela é uma doce ilusão
Êh! Ôh!


E a vida
Ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é, meu irmão?

Há quem fale que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo

Há quem fale que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor

Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é e o verbo é sofrer

Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser

Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte

E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita

Viver e não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar, e cantar, e cantar
A beleza de ser um eterno aprendiz

Ah, meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser bem melhor
E será!

Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita

Vida e carreira

O corpo do empresário Abílio Diniz é velado na manhã desta segunda-feira (19) no Salão Nobre do Estádio do Morumbi, casa do São Paulo Futebol Clube, seu time de coração. A partir das 11h, a cerimônia será aberta ao público. Já enterro será reservado apenas aos familiares.

O empresário morreu neste domingo, aos 87 anos, vítima de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite. Ele ficou internado por um mês no hospital Albert Einstein, na Zona Sul da capital paulista. Ele deixa cinco filhos, esposa, netos e bisnetos.

Filho de Valentim e Floripes, Abilio Diniz nasceu no bairro do Paraíso, na Zona Sul de São Paulo, em dezembro de 1936. Primeiro de seis filhos de uma família de origem portuguesa, viveu nos fundos de uma mercearia.

Em 1948, ainda menino, ajudou o pai na abertura de uma doceria, chamada Pão de Açúcar. Era o início da construção de um império em homenagem ao cartão-postal do Rio de Janeiro, primeira imagem que o pai avistou ao chegar ao Brasil de navio.

Formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Diniz pensou em se especializar nos Estados Unidos, mas o convite do pai falou mais alto, e em 1959, abriram a primeira loja do Pão de Açúcar, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, no coração de São Paulo.

No final dos anos 1960, já eram mais de 60 lojas em 17 cidades.

Em 1971, Diniz inaugurou o Jumbo, primeiro hipermercado do Brasil. Cinco anos depois, com empréstimo do BNDES, comprou a Eletroradiobraz, e seguiu comprando, crescendo e inovando.

Diniz também foi o primeiro a criar supermercado em shopping e a abrir suas lojas 24 horas. Foi um dos fundadores da associação brasileira de supermercados e foi um dos pioneiros na criação de programas de trainees do Brasil, uma maneira de recrutar e treinar talentos nos negócios.

Desafios da vida de Abílio Diniz

Mas um dos maiores líderes empresariais do país também conheceu crises e esteve no centro de conflitos. Por dez anos foi membro do conselho monetário nacional.

Em 1987, com o Pão de Açúcar e o país mergulhados em uma crise econômica, vendeu a sede imponente e voltou ao prédio onde tudo começou.

Em 1989, outro revés. Diniz foi sequestrado quando ia de carro para o trabalho e ficou uma semana nas mãos de sequestradores, nove estrangeiros e um brasileiro. A polícia descobriu o cativeiro, mas a libertação só ocorreu depois de uma longa negociação.

Em 1991, o Pão de Açúcar pagou as dívidas e deu lucro. Diniz se preparou para enfrentar gigantes do varejo internacional no Brasil. Em 1995, abriu o capital do Pão de Açúcar e, com dinheiro em caixa, voltou a comprar supermercados menores, até que encontrou um acionista internacional, o grupo francês Casino.

Depois, decidiu profissionalizar a administração do grupo e tirar os filhos da sucessão. Entrou no ramo de eletroeletrônicos pelo varejo e, depois de 54 anos, deixou o grupo Pão de Açúcar em 2013.

“É um dia muito importante hoje para mim e para minha família. É o dia em que estou passando o controle do grupo Pão de Açúcar para o grupo Casino”, disse na ocasião.

Depois, comandou o conselho de administração da BRF — uma das maiores companhias de alimentos do mundo — e criou uma empresa de investimentos, a Península Participações, que comprou ações do Carrefour.

Com o investimento, tornou-se também membro do conselho de administração da rede de supermercados, uma das principais concorrentes do Pão de Açúcar, que criou.

Além do Carrefour Brasil e França, a Península tem participação em empresas como Wine, Oncoclínicas e Padaria Benjamin.

Sempre esportista, foi tricampeão brasileiro de motonáutica, em 1970, e ganhou, com o irmão Alcides, as milhas de Interlagos. Com isso, criou um portal sobre hábitos saudáveis, que inspirou o livro “Caminhos e escolhas: o equilíbrio para uma vida mais feliz”.

Casado com Auriluce, teve quatro filhos: Ana Maria, João Paulo, Pedro Paulo e Adriana. Depois, do casamento com Geyse Marchesi, teve mais dois: Rafaela e Miguel.

Em 2022, perdeu o filho João Paulo, de 58 anos, vítima de um infarto, em Paraty, no Rio. Na ocasião, Diniz escreveu: “Toda vez que olho essa foto me emociono. Mais do que pai e filho, éramos quase irmãos, dois grandes amigos.”

João Paulo e o pai, Abilio Diniz — Foto: Reprodução: Facebook/ João Paulo Diniz

João Paulo e o pai, Abilio Diniz — Foto: Reprodução: Facebook/ João Paulo Diniz

Adepto da disciplina do esporte e da ousadia nos negócios, Abilio Diniz se tornou um dos mais importantes empresários brasileiros e dizia enxergar um futuro de grandeza e liderança também para o país.

“Esse país é muito grande, muito forte e não tenho dúvida nenhuma que nós vamos avançar”, disse em 2016.

Nota da família

“É com extremo pesar que a família Diniz informa o falecimento de Abilio Diniz aos 87 anos neste domingo, 18 de fevereiro de 2024, vítima de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite.

O empresário deixa cinco filhos, esposa, netos e bisnetos, e irá ao encontro do seu filho João Paulo, falecido em 2022. Desde já, a família agradece a todas as mensagens de apoio e carinho.”

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