Quem era a estudante que descobriu câncer após série de dores de cabeça e morreu durante tratamento de tumor, que é raro em jovens
Letícia Boaron, de 21 anos, era de Ponta Grossa (PR) e estudava Medicina na Argentina até ser diagnosticada com glioblastoma, tumor agressivo, incurável e difícil de ser identificado.
Por Millena Sartori, g1 PR
Letícia Boaron, estudante que descobriu câncer após uma série de dores de cabeça e morreu durante o tratamento do tumor, que é raro em jovens, tinha 21 anos e era de Ponta Grossa, Campos Gerais do Paraná.
Ela cursava Medicina na Fundación Barceló, em Buenos Aires, na Argentina, até receber o diagnóstico de glioblastoma – tumor agressivo, incurável e difícil de ser identificado, segundo o médico neurocirurgião Fabio Viegas. Saiba mais sobre a doença e a luta da jovem contra ela abaixo.
Na infância, Letícia participou de diversos concursos de beleza – ganhando, inclusive, o título de Mini Miss Brasil em 2008.
Em Ponta Grossa, estudou nos colégios Sagrada Família, Alfa e Elite, e era ativa na comunidade religiosa: participava de encontros de jovens e retiros, por exemplo.
Andreza conta que, um dia antes de morrer, a jovem estava debilitada e pediu ao próprio pai para que ela cuidasse da esposa.
No dia seguinte, ela acordou pior, foi levada ao hospital e a mãe escutou dos médicos a notícia que não queria ouvir: Letícia tinha poucas horas de vida.
“Parece que no dia anterior ela se despediu. A Letícia sempre gostou muito de ajudar e cuidar dos outros, tanto é que sempre falava que queria ser doadora de órgãos, mas infelizmente as condições médicas dela não permitiram”, lembra Andreza.
A luta da jovem contra o câncer durou 1 ano e 10 meses – superando a expectativa média de vida dos pacientes diagnosticados com glioblastoma, que é de um ano.
“Ela sempre dizia: ‘Você já agradeceu hoje a Deus, por tudo? Porque eu sim’. Ela sempre agradecia por tudo”, lembra a mãe de Letícia.
Letícia Boaron foi eleita Mini Miss Brasil em 2008 — Foto: Arquivo pessoal
Jovem descobriu câncer após dores de cabeça
Letícia Boaron morreu em Ponta Grossa, aos 21 anos, no dia 10 de fevereiro, quase dois anos após iniciar a luta contra o câncer. Ela começou a sentir dores de cabeça constantes e levou cerca de um mês para descobrir o diagnóstico correto, após os primeiros sintomas.
A mãe dela conta que a jovem procurou ajuda no início de 2022, quando as dores de cabeça se intensificaram. Na época, ela tinha se mudado para a Argentina para cursar Medicina.
Como era período de pandemia, indicaram que ela fizesse um teste de Covid-19, que deu negativo. A mãe conta que a médica que a atendeu, então, disse que ela poderia estar com sinusite.
Letícia Boaron tinha 21 anos — Foto: Arquivo pessoal
As dores pioraram e, no final de março, Andreza decidiu viajar a Buenos Aires de surpresa para ver como estava a filha.
“Eu não sabia se era emocional, se ela querer voltar para casa, ou se ela estava doente. A colega de apartamento me disse que ela não estava bem e não queria contar para não preocupar”, lembra.
Dois dias após Andreza chegar à Argentina, Letícia sofreu uma convulsão. Uma tomografia mostrou o tumor e a jovem foi operada às pressas.
Quando acordou, a estudante estava sem os movimentos do lado esquerdo do corpo. Letícia, então, voltou para Ponta Grossa e iniciou o tratamento contra o câncer.
Um ano e onze meses depois, faleceu horas após chegar ao hospital passando mal devido ao tumor ter se espalhado por todo o cérebro.
A mãe lembra que, ao entrar em Medicina, a área que mais despertou o interesse da filha foi justamente a neurologia.
Letícia Boaron lutou quase dois anos contra o câncer — Foto: Arquivo pessoal
O que é glioblastoma
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), o glioblastoma é o tumor maligno mais comum e agressivo do Sistema Nervoso Central.
Apesar disso, é raro em jovens; a maior parte dos pacientes tem acima de 50 anos de idade e é homem, afirma o médico neurocirurgião Fabio Viegas.
Normalmente o câncer é descoberto quando já está em estágio avançado porque, devido aos sintomas, é difícil de ser identificado.
“A melhor chance de controlar é descobrir o tumor bem no início. Porém, isso é difícil pela falta de sintomas. Esse é o pior tipo de tumor no cérebro, é o mais letal e não tem cura. Infiltrativo, ele nasce, vai se espalhando e normalmente não causa sintomas expressivos, apenas quando atinge uma área mais específica, como o sistema monomotor ou a visão do paciente”, exemplifica o especialista.
De acordo com Viegas, a dor de cabeça é o primeiro e mais comum sintoma deste tipo de câncer.
A dificuldade de diagnóstico está no fato de que a “cefaléia”, termo médico para dores de cabeça, pode ser reflexo de uma série de problemas – e, ao mesmo tempo, de nenhum. Por isso, a recomendação é que se procure um especialista quando dores de cabeça se tornam contínuas ou muito fortes.
“Se a dor persiste por mais de uma semana e a pessoa já tomou remédios e não melhorou, ou então se é tão intensa como nenhuma outra que já sentiu na vida, é hora de ir ao médico”, aconselha o neurocirurgião.
Outros sintomas comuns são convulsões e sensações de formigamento, complementa o médico.
Ele explica que o único fator que influencia no acometimento da doença é possuir histórico familiar de câncer, não importa qual o tipo.
O diagnóstico é feito via tomografia ou ressonância magnética. O tratamento, conforme o especialista, é feito via cirurgia para retirada do tumor, além de radioterapia e quimioterapia.
De acordo com a Associação Americana de Neurocirurgiões, a incidência de casos de glioblastoma é de 3,21 a cada 100 mil pessoas.